sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Mulambo velho.

Um senhor me veio pedindo ajuda
Dizia estar na casa dos sessenta
Mas meus olhos viam oitenta
E o coitado nem casa tinha
Como pode alguém deixa-lo assim?
Saindo por aí, resolvendo problemas
Me lembrava bastante o mendigo da esquina
Só um velho pedindo ajuda
Em sua mão ele segurava um documento
Era uma certidão de óbito
A única pessoa que prezava por ele
Sua filha, que o mantinha vivo
Havia morrido, dias após dar a luz
Mas onde estava essa luz?
Só havia sombra em sua vida
Não tinha dinheiro ou bens
Apenas um saco com documentos
Não sabia que não tinha direito a nada
Agora era o momento da sua neta
Se esperança é a última que morre
A vi deixar o corpo daquele senhor
Um efusivo chegou no momento
E perguntou "tudo bem com o senhor?"
Ele negou ao movimentar a cabeça
E vi água brotar em seus olhos
Era uma lágrima diferente
Como um último suspiro
Eu enxerguei sua dor através dela
E da mesma maneira que entrou
Ele saiu devagar, agradecendo
E eu soube naquele momento
Que eu não mais o veria.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

21 gramas

La tierra giró para acercarnos,
giró sobre sí misma y en nosotros,
hasta juntarnos por fin en este sueño,
como fue escrito en el Simposio.
Pasaron noches, nieves y solsticios;
pasó el tiempo en minutos y milenios.
Una carreta que iba para Nínive
llegó a Nebraska.
Un gallo cantó lejos del mundo,
en la previda a menos mil de nuestros padres.
La tierra giró musicalmente
llevándonos a bordo;
no cesó de girar un solo instante,
como si tanto amor, tanto milagro
sólo fuera un adagio hace mucho ya escrito
entre las partituras del Simposio.

Eugenio Montejo