sábado, 19 de dezembro de 2009

Amigos.

Pelo mundo circulam tais pétalas
soltas pela solidão em seu suicídio,
o acaso as trazem a nossa janela,
nos fazendo sempre dar as mãos.
Um amontoado delas em círculos
dá início a ciranda dos amigos.
Lágrimas de alegria que não secam
e não cessam, por ciclos e ciclos.
Força que se estende
até o limiar do infinito.
Sobe no muro que o cerca
e de lá pula sorrindo.

Aos amigos.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Plena certeza.

Tenho sido desde então
um ponto sem nó,
dois dele sem ponto.
O que não se pega com a mão
verso e avesso em união.
Uma constante sem resultado
mas que, por sê-la, não cessa.
Que não se apaga, se propaga.
Paralelamente uno,
de gritos tão intensos
que todos os "eus" escutam.
E por mais certeza que tenha
de que não sou apenas um,
vou-me com a certeza de que
morrerei de tanto tentar:
não importa o que aconteça,
que destino eu mereça,
jamais alcançarei a proeza
de poder me encontrar.

Apenas um reflexo de luzes,
eu sou o que você vê
e talvez nem seja.
Já que mesmo tentando,
jamais encontramos
a plena certeza.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Mendigo das eras.

Vou escorrendo pelo ralo do chuveiro
já não quero viver acima de tudo.
Vou buscar o escuro e imundo
hibernar por um milênio inteiro.
Me desfazer de lembranças,
me desfazer de trejeitos
acordar sem ao menos um conceito,
serei o mendigo das eras.
Pensando sem muito afinco
puramente necessidade,
puramente instinto.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A teia da realidade.

Será que existe uma constante?
Me vejo calculando as possibilidades
O que teria acontecido "se..."?
O que poderá acontecer "se..."?
Simplesmente não me conformo com o agora.
Eu quero mais, enxergo além,
das vergonhas mais brutas,
dos pecados mais abafados,
das escolhas mal sucedidas,
das infindas lágrimas.
O âmago se esconde, só sussurra
mas eu escuto, eu sei que sim.
Poder dar um passo para trás
retomar o caminho, apagar os rastros
recomeçar, tendo ciência dos fatos
poder viver todos os "se..."
sentir-se infinito.
Não há somente um segmento de vida
existe um para cada escolha feita.
Queria que todos fossem concretos
palpáveis, visíveis, risíveis
possíveis... E não prováveis.
Um painel de ações, omissões e suas ligações,
a teia da realidade.

sábado, 17 de outubro de 2009

Fotografias não devem ser rasgadas.

Fotografias não devem ser rasgadas.
São traços vivos da memória,
lembranças tateáveis, imaculáveis,
talvez a última oportunidade
de jamais serem esquecidas.
Da mais feia a mais bela
chega a ser gritante
fechar sua janela.
É um ultraje perdê-la
e jamais poder tê-la.
Todos os fragmentos são necessários.
As más fases nos ensinam, nos adequam.
Viver sem lembrar do que nos moldou,
de que até o podre
já me fez parte outrora,
é dar muita ênfase ao presente,
exacerbadamente inerente,
aos pseudo-prazeres do agora.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Mulambo velho.

Um senhor me veio pedindo ajuda
Dizia estar na casa dos sessenta
Mas meus olhos viam oitenta
E o coitado nem casa tinha
Como pode alguém deixa-lo assim?
Saindo por aí, resolvendo problemas
Me lembrava bastante o mendigo da esquina
Só um velho pedindo ajuda
Em sua mão ele segurava um documento
Era uma certidão de óbito
A única pessoa que prezava por ele
Sua filha, que o mantinha vivo
Havia morrido, dias após dar a luz
Mas onde estava essa luz?
Só havia sombra em sua vida
Não tinha dinheiro ou bens
Apenas um saco com documentos
Não sabia que não tinha direito a nada
Agora era o momento da sua neta
Se esperança é a última que morre
A vi deixar o corpo daquele senhor
Um efusivo chegou no momento
E perguntou "tudo bem com o senhor?"
Ele negou ao movimentar a cabeça
E vi água brotar em seus olhos
Era uma lágrima diferente
Como um último suspiro
Eu enxerguei sua dor através dela
E da mesma maneira que entrou
Ele saiu devagar, agradecendo
E eu soube naquele momento
Que eu não mais o veria.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

21 gramas

La tierra giró para acercarnos,
giró sobre sí misma y en nosotros,
hasta juntarnos por fin en este sueño,
como fue escrito en el Simposio.
Pasaron noches, nieves y solsticios;
pasó el tiempo en minutos y milenios.
Una carreta que iba para Nínive
llegó a Nebraska.
Un gallo cantó lejos del mundo,
en la previda a menos mil de nuestros padres.
La tierra giró musicalmente
llevándonos a bordo;
no cesó de girar un solo instante,
como si tanto amor, tanto milagro
sólo fuera un adagio hace mucho ya escrito
entre las partituras del Simposio.

Eugenio Montejo

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O homem e o monstro.

Certa noite eu vi um monstro
Não sei bem se me assustava
Com um sorriso de canto
A criatura me encarava
Não tinha chifres nem pêlos
Tampouco cauda ou finos dentes
Se eu não visse direito
Pensava até que era gente
Praticamente da minha altura
Mesmo ombro, mesmo joelho
Reparei que me seguia
Estava frente a um espelho
Quando dei por mim, já não sabia
Em que parte de mim estava
Se era o homem que suspira
Ou o monstro que me habitava

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Surgiu e se foi.

eu estava sozinho, e senti
quandos os números se afastavam
quando as vozes caiam
nada mais havia em mim
eu estava vazio, e caí
o peso nas costas me afundava
a cela do peito apertava
ninguém parecia me ouvir
eu estava perdido, e segui
por entre várias bifurcações
pelas escuras opções
cantarolando o que não se diz
eu estava confuso, e chorei
por medo do que não foi feito
não sabendo se era direito
talvez eu não sobrevivi

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Dê feito.

Dê feito aos montes
Que não se quer desperdiçar
Aos poucos, dê feitos muitos
Têem sempre o que mostrar
Dê feito aos tantos
Já que um nada sempre permanece
E como quem lembra, merece
Dê feito aos esquecidos
Que pelas lacunas padecem
Defeito aberto
Que orquestras rege
Que desvirtua, apodrece
a tênue linha do correto
Dê feito ao feto
Dê feito ao reto
É por defeito, ao certo
Que o coração enruguece
Vácuo presente no peito
Dê feito, que cresce
Sem gênero ou espécie
Simplesmente, dê feito

terça-feira, 21 de julho de 2009

Amezade!

A janela está aberta, já que o vento se dispôs
Eu sinto a brisa do que existe entre nós dois
Milhares de mesóclises, em maioria ineficazes
Tu és de arder em um resquício de saudade

Seu sorriso queima, sua lágrima corrói
Quero e permaneço em sua foz
Desço pelo teu leito, gritando prosas
E me vejo num eixo, cirandeando suas rosas

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O tempo passa, e eu me passo...

meu ontem surgiu repentinamente, clamando saudade
dos tempos em que se ladrava a juventude
todo o universo numa bola de gude
suposta ausência de responsabilidade

hoje não se esconde, se estarra
coração na mão e ego humilhado
esqueci como é bem ser procurado
com os dedos apertados e um sorriso na cara

sábado, 18 de julho de 2009

Voei pra lá!

decisão tomada sem pensadeira
vontade doida sem eira nem beira
num querer demasiado do ser
já estava lá sem perceber

e pisei demais por esses dias
tanto com os pés, quanto com as mãos
braços atados durante a noite fria
gótica e cintilante sensação

lá em cima o ar apertava
abraço forte, de torcer uma costela
vendo o sol deitar-se, pela janela
só assim eu respirava

até minha consciência se elevava
num subir e descer de picos e poços
sem os pés do chão, eu cuspia os caroços
num cortejo alto, eu só acenava

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Ela é assim, sem noção!

ela está fugindo de mim, alguém me diz o porque?
ela está fugindo de ti, ela não quer te ver
ela está fugindo de nós, justo quando a mais desejamos
egoísta! maldita! não nos pôs nem em segundo plano

apenas faz o que quer, e acredita somente em si
é de um ego insuportável, essa morena
segue paralela a seu avesso, apesar de ser pequena
não quer descer do pedestal, ah! faz-me rir

o pior, é saber que tudo não passa de uma imagem
ilusão, desilusão... quem sabe?
amanhã, eu sei que vem atrás de mim
ou existe esse alguém que queira ficar só, no fim?

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sem o script?

Eu devia estar dormindo a essa hora. Tenho faculdade daqui a algumas horas, e justamente quando mais preciso dormir, é que surgem coisas interessantes em minha cabeça. Tente imaginar uma pessoa que fica coçando o saco a maior parte do tempo, reclamando da falta de idéias bacanas: essa pessoa sou eu! E o pior de tudo; descobri que esse é o problema de todos os meus atrasos em compromissos!

As idéias mais densas só surgem quando eu preciso fazer alguma outra coisa, quando não há nenhum meio possível de externalizar o que estou pensando sem causar um considerável atraso em tudo que devia fazer. Sacaram? É minha sina: atrasar por pensar demais em coisas que deveriam ser pensadas depois.

Pior é quando começo a andar na rua, e me vem um turbilhão de coisas na cabeça. Eu projeto as coisas no meu plano de visão, entendem? Já assistiram "O Show de Truman", é como se eu fosse o Truman, e também o diretor por detrás de tudo aquilo. Milhares de perspectivas em uma única linha do horizonte.

Será que estou sendo vigiado agora? Será que foi eu mesmo quem mandei me vigiarem? Será que eu existo? Sinto até que vou escorregar pelo ralo às vezes. Erro de cena, não?

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Pessoas, tão pessoas...

Encontrar pessoas que se destaquem pelo que elas realmente são por dentro, e pela maneira que elas externam isso, está cada vez mais difícil hoje em dia. A novela da vida está sempre renovando seu contrato, e em seu núcleo, aquelas mesmas pessoas condicionadas a se portarem de maneira pré-escrita.

Quando uma pessoa julga outra, apontando determinados aspectos positivos ou negativos da mesma, ela deve tê-los em mente, sempre, como "de fato". Em outras palavras, a plena convicção de que aquilo é verossímil. Como assim? Bem, vou explicar de maneira mais objetiva. Na minha adolescência, escutei um termo engraçado: N.D.A. (sigla para "Necessidade Demasiada de Atenção"), ele era usado pra designar o porquê de algumas pessoas insistirem tanto no querer "se aparecer".

Algumas dessas pessoas adoram "julgar": apontar defeitos, conotar atitudes, dentre outras coisas. Essas pessoas tem constante necessidade de alimentar os seus N.D.A.s, e como não sabem fazê-lo de outra forma, se condicionam a imitar o que as pessoas vem fazendo desde os primórdios do ser "social", começam a falar mal. Só por falar, ué? Para quem sabe, distrair a mente.

Entretanto, é o "falar-por-falar" que nos mostra quem são esses atores. Essas pessoas que, dizem odiar uma pessoa "X", mas depois de um pileque, estão lá, conversando como se nada jamais tivesse acontecido. Que rotulam "Y" por ele não dividir uma maçã, sendo que elas mesmas compram um saco delas no mercado, e chegam em casa escondidos, para não oferecer a ninguém. É incontestável a capacidade de um "broto" de antipatia causar toda uma série de fatores desconfortáveis para ambas as partes.

Para essas pessoas "pessoas", cuidado! O preenchimento contínuo do N.D.A tem efeitos colaterais severos como, por exemplo, transformar o ser em um N.A.D.A. (deixo a cargo de vocês o destrinchamento dessa última sigla)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Poesia para um pseudo-Cazuza.

Acorda, homem, pra vida
Que te abraça sem pedir
Faz você se erguer, ao cair
E lambe suas feridas

Corre da dúvida que te cega
O destino tem devaneios entranhos
É aquela pessoa, a quem você renega
Que te faz, hoje, afogar-se em prantos

Perfura, homem, esse seu ego
Desiste dessa sua banalidade
Vai acabar desabando em declive, direto
E por você não existirá saudade

Peneire-se constantemente
Lapide-se, retire o seu excesso
E pela persona do que é certo
Aloje-se, em minha mente

quinta-feira, 12 de março de 2009

♪ Pegaram meu cabo do mp4 ... ♪

"Como vou escutar música agora?
Pegaram meu cabo do mp4.

Formataram meu pc, só tem música nele
Pegaram meu cabo do mp4.

Como vou carregar esse troço maldito?
Pegaram meu cabo do mp4.

Ônibus é foda sem nada no ouvido
Pegaram meu cabo do mp4.

E agora como vou dar pala na rua?
Pegaram meu cabo do mp4.

O do meu vizinho é na base do encaixe.
Pegaram meu cabo do mp4."

(Sambinha do nerd que já não pode mais usar os fones de ouvido, já que sofre do mesmo problema que eu: falta de um cabo de conexão!)