quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A ambição da noviça.

Uma menina incapaz persistia
Tentava a todo custo ser alguém
Sem perceber que, por esse sonho
Acabou num mundo sem ninguém.
Por devaneios fortuitos,
Nessa ânsia de se afirmar,
Passou por cima de muitos,
Levando todos no paladar.
Causou inveja e cobiça
A mais negra das noviças
Se perdeu no caminhar;
Apesar de todo seu esforço
Fora encontrada morta,
Por um par de mãos no pescoço,
Sem nunca se completar.

sábado, 27 de março de 2010

Elemental.

Eu queria entrar numa bolha,
descer até os cofins do oceano,
e reinar no fundo do mar.

Eu queria segurar raios,
despencar em trovoadas,
espalhar estática com o olhar.

Eu queria flamejar minha alma
incendiar as mentiras do mundo
queimar em fogo profundo.

Eu queria ser forte,
irremovível como uma montanha
firme contra o que me acanha.

Eu queria flutuar,
olhar tudo lá de cima,
navegar pelas correntes de ar.

Eu queria ser luz.
Eu queria ser escuridão.
Em mim, uma só nação.

Desbravar o bem e o mal.
Ser uno com o mundo.
Um elemento primordial.

terça-feira, 23 de março de 2010

À deriva.

Mesmo quando evitamos
é difícil resistir aos impulsos
nos sobram os cortes nos pulsos
e o ego em prantos.
Para os que carecem de cautela,
resta velejar sozinho,
num barco de pedras
ou nas costas de um tubarão,
em mar aberto, horizonte vazio
que pulsa o inverso da criação.
Buscando a estrela da existência,
empurrados pela abstinência
do que já não cabe nas mãos.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Quebrado por dentro.

Reflexo do algoz.
Um buraco aberto.
Quebrados por dentro
são os homens
que se aventuram na hipocrisia.
Que sustentam muito peso.
Inconformados
com o próprio respirar.
Devoradores de devaneios,
do contentamento alheio.
Eles não são felizes,
não chegam ao fim,
param sempre no meio.
São ignorados
pelo próprio espírito.
Ego estampado na testa,
o corpo é sempre uma festa
para os que celebram
a insatisfação suprema.
Caminhando a esmo,
solitários,
não convivem com muitos,
e detestam a si mesmos.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Amigos.

Pelo mundo circulam tais pétalas
soltas pela solidão em seu suicídio,
o acaso as trazem a nossa janela,
nos fazendo sempre dar as mãos.
Um amontoado delas em círculos
dá início a ciranda dos amigos.
Lágrimas de alegria que não secam
e não cessam, por ciclos e ciclos.
Força que se estende
até o limiar do infinito.
Sobe no muro que o cerca
e de lá pula sorrindo.

Aos amigos.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Plena certeza.

Tenho sido desde então
um ponto sem nó,
dois dele sem ponto.
O que não se pega com a mão
verso e avesso em união.
Uma constante sem resultado
mas que, por sê-la, não cessa.
Que não se apaga, se propaga.
Paralelamente uno,
de gritos tão intensos
que todos os "eus" escutam.
E por mais certeza que tenha
de que não sou apenas um,
vou-me com a certeza de que
morrerei de tanto tentar:
não importa o que aconteça,
que destino eu mereça,
jamais alcançarei a proeza
de poder me encontrar.

Apenas um reflexo de luzes,
eu sou o que você vê
e talvez nem seja.
Já que mesmo tentando,
jamais encontramos
a plena certeza.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Mendigo das eras.

Vou escorrendo pelo ralo do chuveiro
já não quero viver acima de tudo.
Vou buscar o escuro e imundo
hibernar por um milênio inteiro.
Me desfazer de lembranças,
me desfazer de trejeitos
acordar sem ao menos um conceito,
serei o mendigo das eras.
Pensando sem muito afinco
puramente necessidade,
puramente instinto.